domingo, abril 30, 2006

Um vício menos típico

Eu até pensei em escrever qualquer coisa sobre uma série de televisão, um desenho animado que se mantivesse como vício, um filme bom para recomendar a muita gente. Mas vou falar de um vício maior, mais abrangente. Falo-vos do telemóvel.
Quantos de nós não somos agarrados a este objecto? Ganhámos o hábito de substituir um relógio de pulso pelo telemóvel. Aprendemos a encher um bocadinho mais o bolso (ou a mala) com o telemóvel. Sentimo-nos nus, desamparados, quando não temos o bicharoco por perto. Será que precisamos de sentir assim tanto a necessidade de podermos ser contactados a toda a hora? Se a facilidade com que nos enviam um SMS ou telefonam fosse transposta para o facto de nos poderem bater à janela, assim, inesperadamente, não acharíamos isso abusivo?

Também eu sou viciado no bicharoco. Tive o meu primeiro telemóvel há seis anos atrás e desde então vou no meu terceiro. Com raras excepções, ligo-o religiosamente quando acordo para o desligar quando me vou deitar. Curiosamente não me sinto devassado na minha intimidade. Posso-me esconder atrás de um ecrã num SMS. Posso, com um pouco mais de dificuldade, disfarçar o tom de voz ou usar falácias no discurso para moldar a mensagem a passar. E quantas vezes não encontrámos nós mais coragem para dizer uma coisa a alguém por SMS do que se o fizéssemos presencialmente?

O fenómeno do telemóvel tem uma explicação simples, pois apesar de proporcionar menos privacidade, por outro lado concede muito mais privacidade, uma vez que é uma linha directa para cada um. Ligando para um número da rede fixa, estamos logo preparados para falar com uma pessoa antes de falarmos com a pessoa com quem efectivamente queremos falar. Sentimo-nos, contudo, profundamente desarmados se alguém que não esperamos atende o telemóvel de outra pessoa. A emancipação das comunicações, é talvez assim que podemos definir melhor este comportamento. E por aqui me fico, com uma última nota de desprezo para a prática, pouco saudável, de entregar telemóveis nas mãos de crianças e assim incentivá-las a cultivar, virtualmente, amizades bem reais. Até ao próximo vício.

1 comentário:

Pedro disse...

Já agora podes dar-me o teu numero de telemovel, é que acho que tens muita piada =P
Agora mais a sério, o telemovel é hoje em dia um orgão extra do ser humano, já pouco tempo deve faltar para nós seres humanos etiquetarmos-nos uns aos outros, e munirmos os nossos corpos de tecnologia. Muito perto anda a altura em que teremos um aparelho tipo telemovel incorporado no corpo (escolham é bem o sitio).
Tal como a internet, os telemoveis são a nossa janela para o mundo, um munda cada vez mais feito de numeros e de teclas, um mundo cada vez mais virtual e visual, um mundo de informaçao em massa, que trás muitas facilidades e ao mesmo tempo muitos perigos, uma coisa é eu poder moldar a informação que sai de mim, mas hoje em dia o perigo é que qualquer um pode faze-lo por mim e muito mais rápido do que eu possa responder... é sem dúvida um mundo fascinante e cada vez mais insonso.