Eu até pensei em escrever qualquer coisa sobre uma série de televisão, um desenho animado que se mantivesse como vício, um filme bom para recomendar a muita gente. Mas vou falar de um vício maior, mais abrangente. Falo-vos do telemóvel.
Quantos de nós não somos agarrados a este objecto? Ganhámos o hábito de substituir um relógio de pulso pelo telemóvel. Aprendemos a encher um bocadinho mais o bolso (ou a mala) com o telemóvel. Sentimo-nos nus, desamparados, quando não temos o bicharoco por perto. Será que precisamos de sentir assim tanto a necessidade de podermos ser contactados a toda a hora? Se a facilidade com que nos enviam um SMS ou telefonam fosse transposta para o facto de nos poderem bater à janela, assim, inesperadamente, não acharíamos isso abusivo?
Também eu sou viciado no bicharoco. Tive o meu primeiro telemóvel há seis anos atrás e desde então vou no meu terceiro. Com raras excepções, ligo-o religiosamente quando acordo para o desligar quando me vou deitar. Curiosamente não me sinto devassado na minha intimidade. Posso-me esconder atrás de um ecrã num SMS. Posso, com um pouco mais de dificuldade, disfarçar o tom de voz ou usar falácias no discurso para moldar a mensagem a passar. E quantas vezes não encontrámos nós mais coragem para dizer uma coisa a alguém por SMS do que se o fizéssemos presencialmente?
O fenómeno do telemóvel tem uma explicação simples, pois apesar de proporcionar menos privacidade, por outro lado concede muito mais privacidade, uma vez que é uma linha directa para cada um. Ligando para um número da rede fixa, estamos logo preparados para falar com uma pessoa antes de falarmos com a pessoa com quem efectivamente queremos falar. Sentimo-nos, contudo, profundamente desarmados se alguém que não esperamos atende o telemóvel de outra pessoa. A emancipação das comunicações, é talvez assim que podemos definir melhor este comportamento. E por aqui me fico, com uma última nota de desprezo para a prática, pouco saudável, de entregar telemóveis nas mãos de crianças e assim incentivá-las a cultivar, virtualmente, amizades bem reais. Até ao próximo vício.
domingo, abril 30, 2006
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1 comentário:
Já agora podes dar-me o teu numero de telemovel, é que acho que tens muita piada =P
Agora mais a sério, o telemovel é hoje em dia um orgão extra do ser humano, já pouco tempo deve faltar para nós seres humanos etiquetarmos-nos uns aos outros, e munirmos os nossos corpos de tecnologia. Muito perto anda a altura em que teremos um aparelho tipo telemovel incorporado no corpo (escolham é bem o sitio).
Tal como a internet, os telemoveis são a nossa janela para o mundo, um munda cada vez mais feito de numeros e de teclas, um mundo cada vez mais virtual e visual, um mundo de informaçao em massa, que trás muitas facilidades e ao mesmo tempo muitos perigos, uma coisa é eu poder moldar a informação que sai de mim, mas hoje em dia o perigo é que qualquer um pode faze-lo por mim e muito mais rápido do que eu possa responder... é sem dúvida um mundo fascinante e cada vez mais insonso.
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